E pelo Brasil, torcer ou não torcer?
POR ROBERTO JARDIM
bobgarden@gmail.com
@bobbgarden
Escrevi esses dias sobre ver ou não ver a Copa do Mundo do Catar, que começa domingo (20). Agora, vamos falar da Seleção Brasileira? A respeito de torcer ou não por ela?
Então, não torço pela “selecinha” da CBF há muito tempo. E continuará a ser assim nesse 2022. Provavelmente, nos próximos Mundiais também.
Voltarei um dia a vibrar pela “amarelinha” um dia? Quem sabe? Nunca digo nunca.
A última vez que sorri e sofri pela Seleção foi em 1986, na Copa do México, aquela vencida pela Argentina de Diego Armando Maradona, lembra? Tudo o que eu queria naquele torneio era que aquela maravilha de quatro anos antes se repetisse.
Enfim, eu tinha 12 anos em 1982, quando o time de Telê Santana, Sócrates, Falcão e cia me encantou – assim como a todo mundo — na competição realizada pela Espanha. Por favor, não venha me falar das falhas táticas daquele time. Para alguém com 12 anos isso pouco importava.
Além disso, prefiro lembrar daquela equipe pelos olhos de um guri do que pelos de um adulto reclamão. Então, aos 16, ainda continuava não entendo nada de futebol – aliás, ainda hoje é assim. E naquele 1986, torci, sorri e sofri bastante. Acabamos caindo para França de Michel Platini.
Depois disso, nada mais uma Copa foi igual. Quer dizer, nunca mais sorri ou sofri para o Brasil. Nem no tetra, em 1994, nem no penta, em 2002. Aí, chegou a hora de você perguntar: o que te levou a deixar de torcer pela camisa amarela criada por Aldyr Garcia Schlee no longínquo 1953?
Bom, eu respondo: foi a corrupção da CBF, que comecei a descobrir ali pelos anos 1990. Os casos relatados em reportagens de jornais, revistas e canais de TV me tiraram o encanto com a Seleção e, por pouco, o do futebol. Desde então, a confederação e, por tanto, o time que enverga seu distintivo sintetizam tudo o que mais abomino no jogo de bola.
Por isso, pouco me incomodou ver a “amarelinha” tomada como símbolo dos seguidores desse neofascismo que é o bolsonarismo. Essa camisa representa bem a hipocrisia que é a vida de boa parte dos seguidores do líder desse (des)governo.
Isso apenas me dá um motivo a mais para não torcer pela “selecinha”. Acrescente à esse cenário o menino, digo, adulto Neymar(keting), um jogador que até pode ser bom, mas não vestiria a camisa do meu time de peladas de final de semana, se eu tivesse um.
E para quem vou torcer?
Bom, primeiro, faço minhas as palavras de Eduardo Galeno em Futebol ao Sol e à Sombra:
Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico:
– Uma linda jogada, pelo amor de Deus!
E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre — sem me importar com o clube ou o país que o oferece.
Se vier com o engajamento político-social que tanto aprecio, melhor ainda. Ou, pelo menos, que venha com uma boa história para que seja contada e recontada.
Depois, torcerei pela Celeste Olímpica e pela Albiceleste. Tudo bem, as federações do Uruguai e da Argentina também têm seus casos de corrupção, mas, me parece, de longe, que seus jogadores estão mais próximos de seus povos e de seus países do que os boleiros brasileiros.
Também gostaria de ver os africanos encantando como fazem às vezes. Chegando, porém, às fases decisivas e, quiçá, ao título.