E pelo Brasil, torcer ou não torcer?

Roberto Jardim
3 min readNov 18, 2022

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A “amarelinha” criado por Aldyr Garcia Schlee foi roubada há muito tempo. Foto: reprodução

POR ROBERTO JARDIM
bobgarden@gmail.com
@bobbgarden

Escrevi esses dias sobre ver ou não ver a Copa do Mundo do Catar, que começa domingo (20). Agora, vamos falar da Seleção Brasileira? A respeito de torcer ou não por ela?

Então, não torço pela “selecinha” da CBF há muito tempo. E continuará a ser assim nesse 2022. Provavelmente, nos próximos Mundiais também.

Voltarei um dia a vibrar pela “amarelinha” um dia? Quem sabe? Nunca digo nunca.

A última vez que sorri e sofri pela Seleção foi em 1986, na Copa do México, aquela vencida pela Argentina de Diego Armando Maradona, lembra? Tudo o que eu queria naquele torneio era que aquela maravilha de quatro anos antes se repetisse.

Enfim, eu tinha 12 anos em 1982, quando o time de Telê Santana, Sócrates, Falcão e cia me encantou – assim como a todo mundo — na competição realizada pela Espanha. Por favor, não venha me falar das falhas táticas daquele time. Para alguém com 12 anos isso pouco importava.

Falcão comemora gol contra a Itália, na derrota por 3 a 2, em 1982. Foto: reprodução

Além disso, prefiro lembrar daquela equipe pelos olhos de um guri do que pelos de um adulto reclamão. Então, aos 16, ainda continuava não entendo nada de futebol – aliás, ainda hoje é assim. E naquele 1986, torci, sorri e sofri bastante. Acabamos caindo para França de Michel Platini.

Sócrates errou o pênalti contra a França. Ali, acabou minha torcida pelo Brasil nas Copas. Foto: reprodução

Depois disso, nada mais uma Copa foi igual. Quer dizer, nunca mais sorri ou sofri para o Brasil. Nem no tetra, em 1994, nem no penta, em 2002. Aí, chegou a hora de você perguntar: o que te levou a deixar de torcer pela camisa amarela criada por Aldyr Garcia Schlee no longínquo 1953?

Bom, eu respondo: foi a corrupção da CBF, que comecei a descobrir ali pelos anos 1990. Os casos relatados em reportagens de jornais, revistas e canais de TV me tiraram o encanto com a Seleção e, por pouco, o do futebol. Desde então, a confederação e, por tanto, o time que enverga seu distintivo sintetizam tudo o que mais abomino no jogo de bola.

Por isso, pouco me incomodou ver a “amarelinha” tomada como símbolo dos seguidores desse neofascismo que é o bolsonarismo. Essa camisa representa bem a hipocrisia que é a vida de boa parte dos seguidores do líder desse (des)governo.

Isso apenas me dá um motivo a mais para não torcer pela “selecinha”. Acrescente à esse cenário o menino, digo, adulto Neymar(keting), um jogador que até pode ser bom, mas não vestiria a camisa do meu time de peladas de final de semana, se eu tivesse um.

E para quem vou torcer?

Bom, primeiro, faço minhas as palavras de Eduardo Galeno em Futebol ao Sol e à Sombra:

Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico:

– Uma linda jogada, pelo amor de Deus!

E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre — sem me importar com o clube ou o país que o oferece.

Se vier com o engajamento político-social que tanto aprecio, melhor ainda. Ou, pelo menos, que venha com uma boa história para que seja contada e recontada.

Depois, torcerei pela Celeste Olímpica e pela Albiceleste. Tudo bem, as federações do Uruguai e da Argentina também têm seus casos de corrupção, mas, me parece, de longe, que seus jogadores estão mais próximos de seus povos e de seus países do que os boleiros brasileiros.

Também gostaria de ver os africanos encantando como fazem às vezes. Chegando, porém, às fases decisivas e, quiçá, ao título.

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Roberto Jardim

Jornalista, dublê de escritor e pai da Antônia. Tudo isso ao mesmo tempo, não necessariamente nessa ordem. @Democracia_FC