Três Fs
POR ROBERTO JARDIM
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@bobbgarden
Quase todo regime autoritário tenta se apropriar do que é popular para cair nas graças do povo ou deixá-lo alienado do que acontece nos salões acarpetados do poder. Não foi diferente em Portugal durante o Estado Novo, ditadura comanda por António de Oliveira Salazar, de 1928 a 1968, e por Marcello Caetano, de 1968 a 1974.
Os governos de Salazar e de Caetano — que lideraram uma espécie de fascismo à portuguesa, com repressão dura a qualquer tipo de oposição e mantendo o povo à parte das decisões (a época, o analfabetismo chegou a 40% no país) — tinham uma forte propaganda como arma. E se utilizavam do que caia no gosto da população para aliená-la.
Assim, surgiu a expressão “Três Fs”, que nada mais era do que a junção dos termos Fado, Fátima e Futebol. Essas três instituições — as duas primeiras genuinamente lusitanas — se tornaram os pilares do salazarismo e da continuação do regime após a saída de Salazar do poder, por questões de saúde, em 1968, e sua morte, em 1970.
Afinal, o fado é a cultura portuguesa em sua mais perfeita tradução. É o ritmo tradicional do país e diz muito da alma da sua população. Já Fátima é a cidade onde, em 1917, três crianças, Lúcia dos Santos (dez anos), Francisco Marto (nove) e Jacinta Marto (sete), relataram aparições da Virgem Maria, que teria revelado um segredo aos pequenos.
E o futebol, bem, quase todos os países do mundo o têm como o principal esporte. E, por levar milhares aos estádios ou ser acompanhado pelo rádio, pela TV e, mais recentemente, pela internet, não tem governo que não queira se aproximar do jogo de bola para se fazer popular. Ou usar do ludopédio para manter a população alienada das ações políticas.