Sobre política e futebol

Roberto Jardim
2 min readJul 8, 2019

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Dado aos acontecimentos dos últimos dias, com jogadoras como Megan Rapinoe e Marta se posicionando politicamente, e o presidente do Brasil aparecendo nos gramados da Copa América, cabe alguns comentários.

Na visão do DFC, existe uma grande diferença entre jogadores, técnicos e, até, dirigentes se colocarem frente à uma questão política — defender a democracia, a liberdade, lutarem contra preconceitos e injustiças e, até, falarem bem ou mal desse ou daquele candidato — e de um político aproveitar um evento esportivo para tentar angariar popularidade.

Atletas em geral, assim como como qualquer outro profissional, são seres humanos, cidadãos. São, enfim, como dizia o filósofo Aristóteles, “animais políticos”.

Nessa linha, acreditamos que todos fazemos política no nosso cotidiano. Em nossas relações, na família, no trabalho, na escola, até na diversão.

Como comenta o ex-zagueiro, escritor e jornalista uruguaio Agustín Lucas (um dos personagens do DFC):

Creio que não existem pessoas apolíticas ou seres apolíticos nas atitudes cotidianas. Assim, também não existe o ser apolítico dentro da cancha.

E acrescenta:

O jogador é mais um ator na sociedade. Tem suas particularidades como um advogado, um taxista ou um mendigo.

Dessa forma, defendemos que todos tenham suas opiniões e as expressem. Aqui entra um paradoxo, ao defender que todos se posicionem, acreditamos que não podemos querer calar quem assim o faz. Isso não quer dizer, porém, que não podemos fazer um contraponto.

Claro que alguns defendem ideias que são contrárias ao que pregamos — defendemos a liberdade, a democracia, a igualdade, o respeito a todos, independente de cor, religião, gênero, nacionalidade etc. — , por isso, os que se posicionam preconceituosamente ou são favoráveis a ideias que namoram com o fascismo ou outro regime excludente, não ganham espaço aqui, a não ser para críticas.

Isso posto, ao defender essa mistura de futebol e política, não significa que apoiamos qualquer político profissional ao se aproximar de um atleta, um clube, uma competição etc. Na nossa visão, são questões completamente diferentes.

Os fatos históricos estão aí para mostrar que a popularidade do esporte sempre esteve na mira de “líderes” aproveitadores.

Foi assim com Mussolini e as Copas do Mundo de 1934 e 1938; com Hitler e os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936; com URSS e EUA nas Olimpíadas do período da Guerra Fria (anos 50 a anos 80); com a ditadura argentina e a Copa de 1978.

Esses são só alguns exemplos de políticos ou regimes tentando se aproximar do esporte visando angariar algum simpatia ou usar uma conquista como forma de propaganda própria. Por isso criticamos todo e qualquer político que faça isso.

Defender que política e esportes não devem andar separados, não significa apoiar o uso político dos esportes.

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Roberto Jardim
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Written by Roberto Jardim

Jornalista, dublê de escritor e pai da Antônia. Tudo isso ao mesmo tempo, não necessariamente nessa ordem. @Democracia_FC

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