Sempre com democracia

Roberto Jardim
3 min readSep 23, 2023

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Homenagem à Democracia Corintiana. Crédito: Pulsar Imagem

POR ROBERTO JARDIM
bobgarden@gmail.com
@bobbgarden

Crianças, desculpem que lá vem textão. Fazia tempo que não escrevia. E já que escrever sempre me ajuda a pensar e a colocar as ideias em dia, vamos lá.

Defensor da democracia que sou, queria discutir exatamente isso, a “democracia” atual.

Temos que convir que não existe apenas uma forma de ver/pensar o mundo.

E, ao mesmo tempo, ele é um só. Para todo mundo. Para todos nós.

Sendo assim, não é possível em uma democracia querer calar, apagar, exterminar quem pensa diferente.

Democracia é exatamente o oposto.

É conviver com o contrário.

É debater e discutir com vários pensamentos para se chegar a um consenso.

É isso precisa ser real!

Sendo assim, nem todo mundo que pensa o contrário de mim é fascista.

Ou seja, nem todo conservador é fascista.

Nem todo liberal é fascista.

Nem todas as pessoas de direita são fascistas.

Nem todo mundo que votou no líder do (des)governo anterior é fascista.

Mais, ainda, nem todos que, mesmo dentro do nosso (meu, teu, dele) campo de pensamento e pensam diferente, ou têm vivências diferentes, são fascistas.

E nem todo mundo, seja de cor, gênero, classe etc. é meu inimigo.

São apenas pessoas que não leem o mundo e a política como os outros ou não entendem do mundo ou da política.

Ou de algum ponto deles.

Talvez também não entendam de liberdade. Menos ainda de democracia.

Ou talvez, eu não entenda nada disso sobre o que estou me metendo a escrever.

Afinal, sempre fui meio medíocre em interpretação de texto.

Bom, voltemos ao que eu queria falar.

Da mesma forma, é preciso ver que pessoas mais velhas, como eu, ou sei lá, até quem tem acima dos 30/35 anos, nasceram e foram criadas em outro mundo.

Foram criadas com outras visões do mundo.

Certamente cheias de preconceitos.

E, mesmo que lutem para se livrar desses preconceitos e outras visões, muitas vezes não estejam totalmente atualizadas.

Assim, talvez seja impossível para alguém da minha geração entender qual letra do LGBTQIA+ é uma pessoa ao vê-la pela primeira vez.

E isso não é um crime. Basta dizer à ela e pronto.

Além disso, é preciso que quem se diz de esquerda, “progressista” — tenho medo dessa palavra, ela me lembra “ordem e progresso” e, portanto, positivismo -, os negros, os pobres com consciência, a classe média idem, os Ls, Gs, Bs, Ts etc. entendamos algumas coisas.

Nenhum deles é o inimigo. Ou todos estão do mesmo lado da “trincheira”.

Ou seja, não adianta brigar por migalhas, enquanto o mundo se esfacela em meio à eventos climáticos e crises políticas, econômicas e sociais.

Não adianta cada um puxar a corda para o seu lado, quando existem questões acima de várias outras.

A imensurável desigualdade social e o meio ambiente, são duas delas, por exemplo.

E, acima de tudo, é inaceitável alguém que sofre algum tipo de preconceito praticar outro.

Preconceito é preconceito. E ponto!

Sempre cito um exemplo.

Em uma reportagem que li, uma trans de origem oriental dizia que não era aceita pela família, por ser trans — ou seja, era vítima de transfobia. E não era aceita na comunidade trans por ser de origem oriental — ou seja era vítima de racismo e xenofobia.

E, para finalizar, precisamos entender que, mesmo sem querer, Lula acertou ao dizer que a democracia é relativa.

Claro que não na questão da Venezuela.

Calma, vou explicar.

Tempos atrás, ouvindo uma entrevista com dois líderes negros de comunidades periféricas de SP, perguntaram a eles como encaravam a ameaça à democracia feita diariamente pelo líder do (des)governo anterior.

E ambos disseram que se eles soubessem o que era democracia, poderiam responder.

E mais, acrescentaram que a democracia nunca chegou na favela, comunidade, vila, periferia, seja lá como você chama.

Pobres e negros nunca foram beneficiados diretamente pela democracia.

E se não pararmos para pensar nisso acima de cada luta nossa, seguiremos não entendo nada de democracia. Menos ainda de liberdade.

E como dizia o povo da foto, ganhar ou perder, mas sempre com democracia.

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Roberto Jardim

Jornalista, dublê de escritor e pai da Antônia. Tudo isso ao mesmo tempo, não necessariamente nessa ordem. @Democracia_FC