Pequeno perfil do cidadão brasileiro de bem
POR ROBERTO JARDIM
bobgarden@gmail.com
@bobbgarden
(Spolier: contém generalizações)
João (pode ser Roberto, Pedro, Zé, Felipe, ou também Maria, Andrea ou Julia, qualquer nome ou qualquer sexo) é o típico cidadão brasileiro classe média de bem.
Quando criança, adolescente e jovem adulto não se interessava muito por aula de História, Sociologia e Filosofia na escola e na faculdade.
Nem mesmo pelas de OSPB ou Moral e Cívica.
Estudava para ficar na média.
Também não gostava de ler nem das aulas de Português.
Quando tinha que pegar algum livro, ia atrás de algum resumo ou coisa parecida.
Nos passeios a museus ou exposições, dava um jeito de escapar.
Enfim, fugia de tudo que o fazia pensar.
Depois de formado, entrou para o mercado de trabalho e batalhou muito. Ainda batalha.
Mas seguiu sem se interessar por aquelas disciplinas. Também sem ler.
Nos momentos livres, queria descansar e se divertir.
Pensar, nem pensar!
Dizia que não tinha tempo, apesar das horas e horas em frente à TV.
Dizia que livros eram caros (eram e são), mas gastava um catatau na TV a cabo e nos churrascos do findi.
Até gostava de filmes. Mas daqueles tipo Rambo ou Duro de Matar.
Muita ação e quase nenhuma reflexão.
E dublado, de preferência.
Nunca foi a um museu, nem quando viajou algumas vezes para fora do país.
Até bem pouco tempo, se informava apenas pela grande mídia.
O que rádios, jornais e tvs diziam era verdade para ele.
Aí veio a internet e as redes sociais.
Seguiu sem ler livros. Também jamais visitou espaços culturais na infinidade de sites espalhadas por aí.
Hoje, nada que a grande mídia diz é verdade.
São todos veículos comunistas ou esquerdistas.
Só acredita nos memes, textos curtos e vídeos, também curtos, que se espalham feito moscas pelas timelines da vida.
Ou então nos sites “independentes” que dizem aquilo que ele quer ouvir.
Com esse conhecimento todo acumulado no últimos oito anos nas redes sociais, virou filósofo, sociólogo, historiador e cientista político.
Por isso acredita que o nazismo era de esquerda.
Também entendeu que terra é plana e que o homem nunca foi à lua.
Ainda passou a ver um comunista ou esquerdista em cada um que discorda dos seus post geniais.
Não entende de arte, mas acha absurdo aquela exposição denunciada no grupo do zap-zap.
Mesmo consumindo muito, grandes marcas do capitalismo internacional são apenas máquina de propaganda comunista para ele.
Mesmo tendo um salário razoável, um ap de 60m² em um condomínio com espaço gourmet, fitness room e piscina, e um carro do ano, ambos financiados a perder de vista, acha que quando falam em elite ou de grandes fortunas, estão falando dele.
Por isso, quer políticos novos, afinal, os antigos são todos corruptos.
Mesmo seu candidato tendo 30 anos de cargos eletivos ou sendo um representante do mercado financeiro, acredita que sua vida vai mudar quando tiver uma arma na mão e o Estado for mínimo.