Mais um fim para El Loco Bielsa
Marcelo Bielsa é um daqueles profissionais que dignificam o jogo de bola. Por isso é admirado pelo Democracia Fútbol Club. Com frequência diz a seus comandados para jogarem pelos torcedores, principalmente por aqueles que têm nos seus times um dos únicos fatores de alegria e orgulho. Adepto do futebol bem jogado e defensor do hábito de levar o esporte além das quatro linhas, El Loco, como é conhecido, teve uma forte derrota ontem.
Contratado para tirar o Leeds United da segunda divisão inglesa, viu sua última chance de disputar uma vaga na Premier League na primeira temporada no comando dos Whites ir embora após a derrota por 4 a 2 para o Derby Country. Agora, só no ano que vem. Apesar de afirmar que o resultado não significa necessariamente um divórcio, o jornal Telegraph aponta que a permanência do Leeds na segunda divisão é o fim da ideia de que os postulados desafiadores do técnico poderiam funcionar.
Pode ser o fim do experimento Bielsa nas terras da Rainha. Mais um fim nos 21 anos de casamata. Aos admiradores do técnico, que por ser meio louco tem muitos que o amam e outros tantos que antipatizam com sua figura e suas ideias, resta torcer para que a nova queda seja apenas mais um capítulo do Manual do Perdedor Perfeito.
Na verdade, um livro que não existe. Mas bem que poderia. Tal título surgiu numa conversa sobre El Loco que tiveram os jornalistas argentinos Hugo Asch e Eduardo Feinman. Asch conta que seu colega lembrava de frases extraídas de uma palestra de Bielsa a alunos do Colégio Sagrado Coração, de Rosario, sua cidade natal.
El Loco disse mais ou menos assim:
Os momentos da minha vida em que cresci têm a ver com fracassos. Os momentos da minha vida em que tenho piorado têm a ver com o sucesso. O sucesso deforma. Ele relaxa, engana, nos torna piores, nos ajuda a nos apaixonar demais por nós mesmos. O fracasso é o oposto: é formativo, nos torna mais sólidos, nos aproxima das convicções, nos torna coerentes. Enquanto competir para ganhar, e eu sempre trabalho para vencer, se eu não distinguir o que é realmente formativo e o que é secundário, eu estaria muito errado.
A fala de Bielsa lembra um trecho de Worstward Ho, de Samuel Beckett:
Tudo desde sempre. Nunca outra coisa. Nunca ter tentado. Nunca ter falhado. Não importa. Tentar outra vez. Falhar outra vez. Falhar melhor.
Dá para trazer a lição para a luta pela liberdade e pela democracia: se falharmos, tentemos outra vez. Se voltarmos a falhar, que seja de uma forma melhor.
Esse texto faz parte da iniciativa de manter o projeto Democracia Fútbol Club na ativa.
Queremos ir atrás de histórias de jogadores e técnicos, times e clubes, torcedores e torcidas.
Afinal, como disse o técnico uruguaio Óscar Tabárez, o futebol é uma excelente desculpa para falarmos de outros assuntos.