Roberto Jardim
3 min readApr 19, 2021

A revolução da elite do futebol

POR ROBERTO JARDIM
bobgarden@gmail.com
@bobbgarden

Claro que a elitização do futebol não é algo novo. A criação da Superliga da Europa, anunciada no domingo (18), é no entanto, uma elitização da elite.

Doze clubes – seis ingleses, três espanhóis e três italianos – anunciaram a criação da nova competição.

A eles, outros três devem formar a base do tal campeonato – uma espécie de “raça superior” do futebol europeu e mundial.

A essas 15 equipes, outras cinco se juntariam a cada ano – os critérios ainda não foram esclarecidos – para disputar um torneio continental, tirando o peso da Liga dos Campeões.

Enfim, como não há, ainda, nenhuma alusão de que os 15 fundadores possam perder lugar em caso de campanhas ruins, a nova liga seria um clube fechado, com cinco convidados a cada ano – provavelmente escolhidos pela soma conta bancária + talentos no grupo de jogadores.

Lembra uma antiga crônica de Luis Fernando Verissimo sobre um jogo de pôquer. No texto, lá pelas tantas, devido ao valor das apostas, um dos carteadores fala: “Ninguém entra! Ninguém sai!”

Bom, voltando à superliga, em princípio, é uma revolução contra o poder da UEFA e, por consequência, da FIFA.

É uma revolução, porém, à gaúcha.

Pra quem não é Rio Grande do Sul, vale lembrar que entre 1835 e 1845, a elite da antiga província de São Pedro – diga-se grandes fazendeiros – se revoltou contra o poder imperial por questões econômico-financeiras, devido a um imposto sobre o charque, principal produto da época.

Daí, veio a Revolução Farroupilha, na qual os estancieiros jogaram a população ao campo de batalha para lutar pelo bolso da elite.

Claro, no caso da superliga, não há riscos de guerra, muito menos de trabalhadores em geral perderem a vida lutando pela elite do futebol.

Como na guerra gaúcha, porém, apenas os já endinheirados têm a ganhar nessa disputa.

Afinal, o objetivo é redistribuir as verbas das competições entre os clubes participantes – tirando da UEFA/FIFA.

Os líderes da superliga até prometem, como sempre, que as migalhas que caírem da mesa irão para os demais clubes do continente.

O certo é que o grande montante do que esse enorme negócio deve girar ficará concentrado nos 15 clubes fundadores.

Como diz um amigo, não tem como fazer filme de bangue-bangue com essa história. Não tem mocinho.

É uma guerra de gângsters, como se fala. Daquelas que a gente torce pela briga em si.

De um lado, a cartolagem corrupta e corruptora da UEFA e da FIFA.

De outro, os megaempresários donos de clube e fundos internacionais de investimento, não menos corruptos e corruptores.

E como na Revolução Farroupilha, quem vai sair realmente perdendo são os torcedores.

Se lá, o povo perdeu a vida, agora, com essa nova elitização do futebol, o povo perderá o circo.

Afinal, os jogos tendem a ficar cada vez mais exclusivo, tanto no estádio como na própria TV.

Além disso, os preços dos produtos licenciados também deve pesar no bolso de quem ainda ama seu time.

Óbvio que o mercado pirata estará logo ali para amenizar. Só que até esse dinheiro beneficia alguém que lucra, e muito, com a paixão de milhões de pessoas.

Nem tudo porém é ruim, podemos pensar, dando uma de Poliana.

Se houver inteligência por parte dos alijados – centenas, milhares de clubes ao redor da Europa e, também, do mundo – pode surgir aí uma oportunidade de os times se reinventarem e, assim, se reaproximarem daqueles que fazem o futebol pulsar, a torcida.

Como Caetano Veloso canta em Sampa, porém, essa é a força da grana que ergue e destrói coisas belas.

Roberto Jardim
Roberto Jardim

Written by Roberto Jardim

Jornalista, dublê de escritor e pai da Antônia. Tudo isso ao mesmo tempo, não necessariamente nessa ordem. @Democracia_FC

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